domingo, 3 de outubro de 2010

Complemento a Aula de Sociologia

Pessoal, para complementar as atividades dos seminários que estamos vendo em sala de aula, trago aqui um trecho da obra analisada ( saário, preço e lucro - Karl Marx). Por favor façam suas considerações, ok ? Ah, se tiverem materias sobre as palestras passadas, por favor se puderem encaminhar, ficaremos grato.

Força de trabalho.

Depois de termos analisado, na medida em que podíamos fazê-lo, num exame tam rápido, a natureza do valor, do valor de uma mercadoria qualquer, devemos volver a nossa atenção para o valor específico do trabalho. E aqui tenho eu, novamente, que vos surpreender com outro aparente paradoxo. Todos vós estais completamente convencidos de que aquilo que vendestes todos os dias é o vosso trabalho; de que, portanto, o trabalho tem um preço e que, embora o preço de uma mercadoria, seja que a expressoa em dinheiro do seu valor, deve existir, sem dúvida alguma, qualquer coisa parecida com o valor do trabalho. E, não obstante, não existe tal coisa como o valor do trabalho, no sentido corrente da palavra. Vimos que a quantidade de trabalho necessário cristalizado numa mercadoria constitui o seu valor. Aplicando agora este conceito do valor, como poderíamos determinar o valor de uma jornada de trabalho de 10 horas, por exemplo? Quanto trabalho está contido nesta jornada? Dez horas de trabalho. Se diséssemos que o valor de uma jornada de trabalho de 10 horas equivale a 10 horas de trabalho, ou à quantidade de trabalho contido nela, faríamos uma afirmação tautológica e, além disso, sem sentido. Naturalmente, depois de desentranhar o sentido verdadeiro, porém oculto, da expressão valor do trabalho, estaremos em condição de interpretar esta aplicação irracional e aparentemente impossível do valor, do mesmo modo que estamos em condições de explicar os movimentos, aparentes ou somente perceptíveis em certas formas, dos corpos celestes, depois de termos descoberto os seus movimentos reais.
O que o operário vende não é diretamente o seu trabalho, mas a sua força de trabalho, cedendo temporariamente ao capitalista o direito de dispor dela. Tanto é assim que, não sei se as leis inglesas, mas, desde logo, algumhas leis continentais fixam o máximo de tempo pelo qual uma pessoa pode vender a sua força de trabalho. Se lhe fosse permitido vendê-la sem limitação de tempo, teríamos imediatamente restabelecida a escravatura. Semelhante venda, se o operário se vendesse por toda a vida, por exemplo, ia convertê-lo sem demora em escravo do patrão até o final dos seus dias.
Thomas Hobbes, um dos economistas mais antigos e dos mais originais filósofos da Inglaterra, já assinalara no seu Leviathan, instintivamente, este ponto que escapou a todos os seus sucessores. Dizia ele: “o valor de um homem é, como para todas as outras cousas, o seu preço; quer dizer, o que se pagaria polo uso de sua força”.
Partindo desta base podemos determinar o valor do trabalho, como o de todas as outras mercadorias.
Mas, antes de fazê-lo, poderíamos perguntar: de onde provém esse fenómeno singular de que no mercado nos encontremos um grupo de compradores, que possuem terras, maquinaria, matérias-primas e meios de vida, cousas essas que, excepto a terra, em seu estado bruto, som produtos de trabalho, e, por outro lado, um grupo de vendedores que nada tenhem a vender senão a sua força de trabalho, os seus braços laboriosos e cérebros? Como se explica que um dos grupos compre constantemente para realizar lucro e enriquecer-se, enquanto o outro grupo vende constantemente para ganhar o pão do cada dia? A investigação deste problema seria umha investigação do que os economistas chamam “acumulação prévia ou originária”, mas que deveria chamar-se expropriação originária. E veremos que esta chamada acumulação originária não é senão uma série de processos históricos que resultáram na decomposição da unidade originária existente entre o homem trabalhador e seus instrumentos de trabalho. Esta observação cai, todavia, fora da órbita do nosso tema actual. Uma vez consumada a separação entre o trabalhador e os instrumentos de trabalho este estado de cousas manterá-se e reproduzirá-se em escala sempre crescente, até que uma nova e radical revolução do sistema de produção a deite por terra e restaure a primitiva unidade sob uma forma histórica nova.
Que é, pois, o valor da força de trabalho? Como o de toda outra mercadoria, este valor determina-se pela quantidade de trabalho necessário para produzi-la. A força de trabalho de um homem consiste, pura e simplesmente, na sua individualidade viva. Para poder crescer e manter-se, um homem precisa consumir uma determinada quantidade de meios de subsistência, o homem, como a máquina, gasta-se e tem que ser substituído por outro homem. Além da soma de artigos de primeira necessidade exigidos para o seu próprio sustento, ele precisa de outra quantidade dos mesmos artigos para criar determinado número de filhos, que hão de substituí-lo no mercado de trabalho e perpetuar a raça dos trabalhadores. Ademais, tem que gastar outra soma de valores no desenvolvimento da sua força de trabalho e na aquisição de uma certa habilidade. Para o nosso objectivo bastará-nos considerar o trabalho médio, cujos gastos de educação e aperfeiçoamento são grandezas insignificantes. Devo, no entanto, aproveitar a ocasião para constatar que, assim como diferem os custos de produção de força de trabalho de diferente qualidade, assim tem que diferir, tambérn, os valores das forças de trabalho aplicadas nas diferentes indústrias. Por conseqüência, o grito pela igualdade de salarios assenta num erro, é um desejo oco, que jamais se realizará. É um rebento desse falso e superficial radicalismo que admite as premissas e procura fugir às conclusões. Dentro do sistema do salariado, o valor da força de trabalho fixa-se como o de outra mercadoria qualquer, e como distintas espécies de força de trabalho possuem distintos valores, ou exigem para a sua produção distintas quantidades de trabalho, necessariamente tem que ter preços distintos no mercado de trabalho. Pedir uma retribuição igual ou simplesmente uma retribuição justa, na base do sistema do salariado, é o mesmo que pedir liberdade na base do sistema da escravatura. O que pudéssedes considerar justo ou equitativo não vem ao caso. O problema está em saber o que vai acontecer necessária e inevitavelmente dentro de um dado sistema de produção.
Depois do que dissemos, o valor da força de trabalho é determinado pelo valor dos artigos de primeira necessidade exigidos para produzir, desenvolver, manter e perpetuar a força de trabalho.

Estraido do site :www.primeiralinha.org.

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